quarta-feira, dezembro 15, 2004
Fila do Emprego
Jurandir acordou cedo para ir a Agência de Empregos. Para ver se tinha uma vaga de eletricista. Vida dura a de Jurandir. Chegou cedo, e sua senha foi a de número 455, o suficiente para sentar em uma daquelas cadeirinhas desconfortáveis, aproveitar o ar-condicionado e ver TV.
Havia ao menos 454 pessoas a sua frente, e com certeza outras tantas atrás. Jurandir - que cansou de ver a TV - passou a observar aquelas pessoas e pinçar fatos cotidianos relacionados a elas. E cá entre nós, fatos cotidianos são muito mais agradáveis que o programa da Xuxa.
Ao seu lado, um taxista, que chamou uma mulher para sentar ao lado dele. No intervalo da chuva de cantadas que distribuía contra a moçoila, ex-caixa de supermercado, bradava contra seu emprego anterior: " - Eu cansei de trabalhar pr´aquele babaca. Desde uns 178 anos atrás(sic), quando a Princesa assinou a Lei Laura(sic sic), não existem mais escravos. Por que eu trabalhava de escravo então? Por que?"
Jurandir riu - quase não conseguiu conter a gargalhada - mas se controlou. E ainda lembrava dos versos de Roberto Carlos, na música Lady Laura. Até porque, 178 anos por 178 anos, a Lady e a Lei têm quase a mesma idade. Sentado atrás de Jurandir, um caminhoneiro. Falando sobre viagens, mulheres, dinheiro. Parecido com uma personagem do desenho do Pica-Pau. Contando orgulhoso suas aventuras e desventuras, como a do dia que não pagou a última prestação do caminhão para fazer uma farra com uma mulher. E que não podia pedir dinheiro emprestado a sua esposa, porque isso se transformaria num divórcio. A solução foi recorrer a um agiota. Farra cara essa.
O tempo passava e pessoas entravam. O tempo passava e pessoas saíam. E Jurandir observava aquela gama heterogênea de pessoas a sua frente. " - Muita gente deve depender dessas pessoas", pensou. Pensou em sua família também. Mulher e filha, lindas. A filha acabou de perder o primeiro dentinho, vê só! O número de Jurandir foi chamado. E ele fez sua inscrição. Saiu cansado, pronto para almoçar em algum cantinho da cidade com um precinho camarada. Pronto para renovar suas forças e esperanças e torcer para o dia em que terá um emprego.
Conto depositado por Art at 12:00 PM
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