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quarta-feira, dezembro 08, 2004




Gauche



Vicente é jornalista. Acorda às 5:30 da manhã, beija sua mãe e seu pai. Benção. Brinca com o irmão, toma banho, se arruma e vai trabalhar. Vai de trem, coisa rápida. Escolheu este meio de transporte por mais um motivo: Às 6 da manhã de uma alvorada dessas, encostaram-lhe um revólver na cabeça. Não, não era ladrão, era polícia, e perguntava o que Vicente estava fazendo naquele carro, o seu carro, comprado com muito esforço. Ah esqueci de dizer, Vicente é negro.

Pois bem, continuando, ele pega o trem na estação. Trem lotado, cheio de trabalhadores humildes, alguns camelôs e dois ou três pastores chatos que gritam e pregam a viagem inteira. O trem chega ao seu destino. Aleluia.

O dia é cinza, que cobre o céu inteiro. O mormaço cobre o corpo de Vicente de calor. A camisa encharcada pelo suor, neste tempo abafado. E Vicente rasga as avenidas do centro da cidade, sem a mínima pressa, para poder observar a arquitetura. Observa a beleza dos prédios, mas também a tristeza dos menores, sujos e drogados debaixo das marquises, cheirando cola e tíner.

Observa os executivos, colados a outros executivos, que falam enrolando a língua, passando indiferentes aos desempregados que fazem fila em uma agência de trabalho qualquer. Para os executivos, aqueles não estudaram. Merecem estar assim. - "É o mesmo tipo de gente que rouba dinheiro público e empobrece o povo", pensa Vicente.

Continua a caminhar, observando todas as coisas que são necessárias ser vistas. Figuras permanentes do quadro que costuma-se chamar de "Cidade Maravilhosa". Com esse panorama, Vicente mareja os olhos. Luta para não deixar a lágrima cair, e consegue. Se imagina "gauche"¹, e talvez seja mesmo, por ser sensível - raridade nos tempos de hoje.

Chega ao trabalho, conseguido com muito esforço e capacidade, assim como a Universidade Pública, que ele, suburbano, fez no meio de tantos outros das elites dominantes. No meio daquele barulho de impressoras, chefes estressados e outros que não fazem nada, ele abre a janela. Dá de cara com a vista cinza de uma parede, mas sabe que atrás daquela parede tem um céu, uma visão, um Cristo Redentor.

Vicente é brasileiro, Vicente é humano, Vicente tem fé. E tendo fé, reza por aqueles que quase fizeram sua lágrima cair. Aqueles injustiçados. Reza por ele, por uma boa volta pra casa. Para abraçar o pai, para beijar a mãe, para sacanear o irmão, tricolor, enquanto ele é rubro-negro. Sabe que tem uma ótima situação em casa e agradece por isso, mas nem por isso deixa de lutar. Luta, vive e é feliz. E sabe que tem comidinha da mamãe esperando por ele em casa. Graças a Deus. Amém
_____


texto em homenagem a um grande amigo, Vicente, que - afora os exageros que o conto não prescinde - é uma pessoa fabulosa, sincera e leal. A ti, grande amigo dos sambas e do Maracanã, dos momentos bons e ruins, das vitórias e empates e comemorações de títulos do Flamengo em pleno posto de gasolina em Olinda no Carnaval, um grande e saudoso abraço, na certeza de que nos encontraremos de novo, para tomar uma cerveja e falar besteiras.

¹ Diferente, diverso; Palavra utilizada por Carlos Drummond de Andrade em um de seus mais famosos poemas - que obviamente não lembro o nome.




Conto depositado por Art at 1:31 AM








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Arthur Chrispin, 20 e poucos, Advogado feliz e contente, mas observador e amante da vida, músico, poeta e letrista por hobby, noivo, Capixaba de nascimento, Carioca de alma, Pernambucano por circunstância e amor. Feliz assim. Gosta de escrever contos, crônicas e o que der na telha. Sonha fazer 100 contos. Sabe que não valerão nada. Mas tem a cara de pau de publicá-los assim mesmo.


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